Fim do rotativo do cartão de crédito é uma necessidade, afirma Aderson Frota

Fim do rotativo do cartão de crédito é uma necessidade, afirma Aderson Frota

Texto: Jefferson Ramos (Acrítica)

Foto: Hudson Fonseca (Aleam)

O presidente da Federação do Comércio do Estado do Amazonas (Fecomércio), Aderson Frota, avaliou como positivo o aceno do Banco Central e do governo federal de extinguir o rotativo do cartão de crédito que submete consumidores inadimplentes a taxa de juros de até 450% ao ano. Na avaliação dele, a medida não deve ser aplicada de maneira abrupta, mas gradualmente. Com isso, o consumidor conseguirá retomar o crédito e consumir, rodando a economia.

O empresário apontou, na entrevista abaixo, que o governo do estado tem feito cobrança de imposto de maneira adiantada, ao menos 45 dias antes do lojista receber a mercadoria e vendê-la. Cobrou ainda que o governo federal cobre impostos dos e-commerces chineses gigantescas do varejo online.

Como o senhor recebeu a proposta do Banco Central de pôr fim ao rotativo do cartão de crédito?

É necessário. Mesmo com o Desenrola do governo federal ainda não foi possível estancar a inadimplência. Mas ele ajudou a melhorar. O governo precisa incrementar medidas que possam restabelecer as pessoas, os consumidores e as famílias que estão devendo muito sem ter condições de pagar. O BC está pensando numa situação que possa reduzir o custo da dívida de pessoas que não conseguem pagar toda a fatura do cartão de crédito.

Jogar o consumidor em um débito que vai corrigir a 430% ao ano é inviável. Temos que ter essa noção. O consumidor só vai se endividar mais e também se inviabilizar cada vez mais. Vai entrar num processo de negatividade muito elevado e isso é muito ruim. Porque não é só uma família que se endivida é a economia que perde porque com a negatividade que ele está experimentando hoje, ele não vai comprar.

Tenho conversado com alguns empresários de supermercados e eles relataram que as vendas estão caindo. São coisas de primeira necessidade. Se pode adiar a compra de um sapato ou deixar para consertar o carro depois, mas comer é inadiável. O consumidor está comprimido pelos débitos, negativado sem acesso ao crédito, tendo a necessidade de administrar o dia a dia com muita dificuldade.

Como empresário, preocupa o reflexo no mercado de trabalho, pois quando a economia para de funcionar, o desemprego aumenta. Um pai de família punido pela falta de recurso que tenha filhos para sustentar vai à loucura. Ele pode recorrer à violência.

Na sua avaliação, o fim do rotativo pode colocar em risco a modalidade de parcelamento sem juros na qual o setor varejista vende bastante?

É uma necessidade neste momento. Acho que o sistema bancário tem que entender a mecânica desse rotativo, tem que aderir a estas práticas que visam recompor o poder aquisitivo da população. Tirar o consumidor e as famílias da falta de acesso ao crédito, porque isso tem um efeito social muito grande. O comércio precisa vender porque quando cresce ou desenvolve, também gera empregos e benefícios, renda e qualidade de vida para população.

Essa provável reconsideração do rotativo pode ser graduada para não ter efeitos tão drásticos, mas que é necessária para recompor a economia e reconstituir e tirar as famílias da negatividade, é fundamental.

O BC alega disciplinar o parcelamento sem juros para que ele não se torne um financiamento de longo prazo. Como o senhor vê essa declaração do presidente do BC?

Tudo que é feito abruptamente cria efeitos muito fortes. Uma retirada de custo financeiro mesmo gradual, mas com uma certa forma, que conduza a economia para uma situação melhor, é positivo.

O BC estuda encaminhar os devedores do cartão de crédito, direto para o parcelamento da dívida, ao invés do rotativo com juros 15% ao mês ou 440% ao ano, de que teria taxas de juros menores, em torno de 9% ao mês. Essa solução agrada o comércio?

Ela não só agrada, mas viabiliza o retorno da economia à normalidade. É isso que precisa ser entendido. Quanto mais aumenta a inadimplência, pior. Todo mundo achou que os bancos iriam repelir quando o governo federal lançou o Desenrola, mas eles aderiram. Porque é melhor recuperar o capital paralisado pela dívida do que não receber nunca. Os bancos diminuíram as taxas de juro. Isso é positivo. É melhor abrir mão de 90% dos juros do que não receber o capital aplicado. É uma medida inteligente.

Esse mesmo raciocínio pode voltar a ser aplicado neste momento ao cartão de crédito. É uma medida saudável porque todo mundo ganha quando a economia funciona. Ganha o trabalhador, o estado em termo de arrecadação. A população é mais atendida em termos de ações do governo. O consumidor e as famílias recuperam a qualidade de vida.

O Banco Central reduziu a taxa selic em meio ponto percentual. Essa redução é suficiente para incentivar o consumidor a comprar?

Não é uma coisa imediata. As coisas vão acontecendo. Na medida que a economia dá sinais de retomada, os empregos florescem, a produção de renda aumenta e a qualidade de vida da população melhora. É um contexto todo. Não pode ser visto apenas no efeito imediato.

O principal motor da economia é o consumo das famílias. Contudo, segundo especialistas, na última década, esse motor foi drenado por elevadas taxas de juros praticadas por intermediários financeiros. Para o senhor, os bancos públicos poderiam aumentar a participação no setor de crédito para dinamizar a economia?

O governo estuda lançar um programa para socorrer o pequeno e médio empresário. Esses dois setores respondem por 80% dos empregos. Focar nesta direção é fundamental para dar sobrevida ao mercado de trabalho e naturalmente a própria atividade econômica. Hoje, a Agência de Fomento do Estado do Amazonas (Afeam) tem linha de crédito voltada para o pequeno empresário. A Caixa Econômica está lançando uma programa fantástico que tem vinculação com o Minha Casa, Minha Vida, aumentando o valor para a compra de imóveis.

Isso facilita a compra e também facilita a retomada do setor de construção civil que está muito parado. A Caixa terá linhas subsidiárias de crédito que se chama de crédito de varejo que é uma medida importante porque oferece financiamento com uma taxa de juros de 1,86% a 1,89% por mês, o que vai melhorar bastante a vida do pequeno empresário para que ele possa manter os empregos. Esse programa foi lançado essa semana que eu aplaudi profundamente.

O governo Lula tem feito muitas críticas ao que chama de rentismo, que é quando o juro está alto o empresário coloca o dinheiro no mercado financeiro ao invés de investir na indústria ou comércio. Até aqui, qual a análise o senhor faz da política econômica do governo Lula? Se ela privilegia a produção ou fuga de capital para o mercado financeiro?

Quando se coloca o dinheiro no mercado financeiro você automaticamente engessa a economia porque aquele capital passa a ser especulativo e não mais produtivo. Eu com a minha empresa e capital, só ganho 5% vou para o mercado que ganho 15%. É uma tendência natural das pessoas buscarem onde tem mais conforto e mais segurança.

Esse é o lado realmente perigoso. Precisamos criar um mecanismo para tornar o capital na condução da produção e não da especulação. Porque a especulação gera benefício para poucas pessoas. Por isso que os bancos centrais atuam. O crescimento da inflação obriga o governo a aumentar a especulação, uma forma de tirar dinheiro para não gerar inflação. É uma balança que tem que ser usada com pesos iguais para que haja equilíbrio e não haja prejuízo para população e nem para as empresas e o governo.

Como o setor do varejo avalia o fato de o governo federal não ter incluído a BR-319 no PAC?

O nosso país é gigantesco. Um continente. Só o Amazonas é 20% do Brasil. A Amazônia inteira é mais de 60% do país. Temos apenas 30 milhões de brasileiros que vivem na região amazônica de mais de 200 milhões. O nosso poder de representação política também é outra limitação. Se olha apenas um aspecto que é o meio ambiente. E não se olha os benefícios que essa rodovia vai agregar. Pagamos os fretes mais caros do Brasil e do mundo. Não podemos ficar nessa dependência. O amazonense paga um dos maiores preços do Brasil. Não é justo.

O meio ambiente tem que viver em consonância e harmonia com o ser humano. Tem que conciliar as realidades. Quando se privilegia um fator aí é injustiça com outras realidades não consideradas.

O varejo está endividado. Como está fazendo para arrolar as dívidas com uma taxa de juros (Selic) 13,25% ao ano?

Às vezes, o governo do estado trata o setor comercial e de serviços com um rigor fiscal muito grande. Pagamos imposto antecipadamente, em até 45 dias. Na maioria das vezes, a empresa nem recebeu a mercadoria, nem sequer vendeu. Pagamos imposto com valor agregado. Ou seja, estabelecido pelo próprio governo. Enquanto que outros setores têm desconto, o comércio e o serviço é tratado de forma austera. Não só não tendo prazo para pagar imposto, mas acima de tudo agregando valor que aumenta o preço para o consumidor final.

Segundo a Pnad contínua, o comércio alavancou a criação de empregos no segundo trimestre no Amazonas. A que se deve esse desempenho?

Atualmente, o mercado de trabalho depende muito do segmento de comércio e serviço. Porque o agronegócio está mecanizado, quase não se usa mão de obra. A tendência desse setor é ganhar desenvoltura, mas emprega cada vez menos gente.

Por outro lado, a indústria também pelo custo do emprego está cada vez mais automatizado e robotizado. Empregando cada vez menos trabalhadores. Isso é normal.

O único setor que tem a empregabilidade expressiva e inevitável e normal é o setor de comércio e serviço. Segundo o Caged, 70% dos empregos hoje estão no comércio e serviço. Essa é uma realidade. A indústria é 20%.

O comércio nacional tem sentido a concorrência de e-commerces chineses gigantes do setor. Como esse fenômeno atinge o varejo local e que medidas o setor reivindica do governo para fazer frente a este desafio?

Toda vez que se gera privilégios, a atuação é deformada. O pessoal está usando muita pessoa física de forma irreal e ilegal. Utilizam os US$ 50 da pessoa física. Pessoa física não vende mercadoria. É uma forma não legal de proceder.

Queremos que o mesmo tratamento que é dado para quem compra até US$ 50 seja dado para as empresas que compram e pagam os impostos.